Sandy | SIM

sandy_facebookFaz tempo que eu estou querendo escrever sobre a menina que não canta mais a doce canção da Maria Chiquinha, mas por motivos diversos demorei mais do que eu mesmo esperava ou gostaria. No entanto, o bom de escrever de maneira independente é justamente a liberdade que você possui de criar os seus textos por puro prazer e no momento que considerar mais oportuno.

Como as palavras foram chegando naturalmente, resolvi dedicar algum tempo a elas, recebendo-as de braços abertos e sem muito me preocupar. As convidei a entrar – as palavras – e tomamos um saboroso café para posteriormente, nos juntarmos à ideia de desenvolvermos o texto. Somente eu e as palavras. Mais ninguém.

Bem, as pequenas presilhas usadas no cabelo continuam singelas como antes e sendo vendidas em lojas de acessórios e centros comerciais. Quase sempre são confeccionadas com elásticos, ou grampos coloridos e trazem enfeites de joaninhas e outras figuras bonitinhas do imaginário infantil. As mães adoram cuidar de suas filhas como se fossem bonecas, isso todos nós sabemos. Colocam, sempre que podem as melhores roupinhas e as tratam como verdadeiras princesas. Certamente, não há problema algum nisso. Pelo contrário, é uma maneira carinhosa e amável de tratar as pequenas notáveis. Mas o tempo passou e a menina de saia engomada que frequentava os programas de televisão já não é mais sequer uma adolescente. Que bom, sinal de novos tempos e certeza de que continuamos andando para frente. Afinal de contas, o mundo evolui.

Os discos também já não são mais tão ensolarados como a época dos seus quinze anos. Para trás ficaram os anos de suposta rebeldia e as inquietações da juventude. Pois, certamente atrás do jeito angelical com que foi rotulada por muitos críticos de plantão, Xororó e Noely tiveram seus momentos de aperto. Mais quais são os pais que nunca os tiveram, não é mesmo? Faz parte de todo processo familiar às brigas e discussões com os filhos em razão dos seus questionamentos. Mas tudo em nome do respeito, da sabedoria, e, sobretudo com o intuito de orientá-los para que venham a ter um futuro brilhante ( não se trata de propaganda de sabão em pó ) alicerçado por nossos pontos de vistas e por aquilo que consideramos o melhor para eles. É claro que alguns filhos dão mais trabalho que outros, mas no geral, a única coisa que muda é o CEP. Em vias de regra os questionamentos, as dores de cabeça e noites mal dormidas acontecem normalmente pelos mesmos motivos. Não acredito que a Sandy tenha sido muito diferente de toda e qualquer menina da sua idade, eu tenho irmãs e sei bem como isso funciona, “Até Menudo eu já tive que aturar, dia e noite, rolando no toca discos”. Exceto pelo fato de que sempre trabalhou muito desde novinha, as coisas tendem a obedecer a um ritmo natural. Aquela menina com certeza gostava de brincar com outras crianças, de conversar com as suas amigas para trocar confidências e se divertir como uma pessoa qualquer.

Agora, convenhamos, deve ser um saco ter um bando de fotógrafos te perseguindo que nem cão de caça em busca do primeiro espirro do dia. São que nem pulgas em cachorros ou aqueles peixinhos que se alimentam seguindo os tubarões. Muitos são como parasitas e não desgrudam por mais que estejam sendo extremamente inconvenientes. Não sou contra os fotógrafos ou contra a imprensa, mas acredito que deva haver discernimento, bom senso e respeito a toda e qualquer pessoa. Respeitar não significa falar bem o tempo todo e nem tirar as melhores fotos possíveis, mas consiste em entender e repeitar o espaço que cada um possui como indivíduo dentro da nossa sociedade, seja qual for a sua profissão. Mas, deixando de lado a lenga-lenga, e o blá, blá blá, e ofato de que as sanguessugas e puxa sacos estão em toda parte, o tempo passou. Mas como diria o saudoso Renato Russo, “Temos todo tempo do mundo”, então “bora” seguir com esse texto, Marcelo, e analisar o que a menina Sandy aprontou com essa última bolachinha recheda, chamada cd.

Nesse sentido, tenho certeza que aquela menina, hoje uma mulher, foi extremamente sábia e não optou pelo caminho do conforto. Mais fácil seria transitar pelas facilidades já existentes fazendo uso de habituais hits matemáticos ou canções escolhidas a dedo compostas por terceiros especializados. Entretanto, apesar da lógica mostrar exatamente isso, o bom artista é aquele que se reinventa e quebra paradigmas. Rompe com o óbvio, sai do lugar comum e abandona a da zona de conforto experimentando novas possibilidades. Será que foi isso que a Sandy fez? SIM! Foi exatamente isso! Essa desconstrução faz surgir um novo conceito, uma nova estética, um novo eu, capaz de fazer dos desafios à parte mais estimulante de todo esse processo. Foi por esse caminho, talvez tortuoso para muitos, que os novos projetos de Sandy seguiram o seu rumo. As escolhas por ela feitas foram as melhores possíveis e os resultados aparecem a cada nova etapa da sua carreira. Muito embora as fases sejam bastante distintas, é muito bom ver que as opções a estão levando a mares nunca antes navegados. Ir de encontro à maré, por mais difícil que seja, pode trazer gratas surpresas, bem como produzir grandes resultados.

Ouvindo os novos trabalhos você se depara com timbres bacanas, melodias elaboradas e harmonias bem construídas buscando sempre se afastar do óbvio. A música se torna mais refinada com a utilização de instrumentos menos usuais e a adoção de bons efeitos.

sandy_2013_divulgacao_2As canções mostram uma compositora de mão cheia cada vez mais inspirada e voltada para a construção de seu próprio repertório, digníssimo por sinal. Todo mundo que tem alguma relação com a composição, como é o meu caso, sabe muito bem o quanto é especial você cantar as suas próprias canções. Não importa se para cinco pessoas ou para milhares. Cada nova música composta é como se fosse o nascimento de mais um filho. E, nesse sentido, Sandy tem construído uma bela família.

Dessa forma, Sandy apresenta suas pérolas e faz de “SIM” um lindo bouquet de sentimentos, cheio de nuances e bons momentos. Indiscutivelmente, o resultado final é muito bacana. A essência continua sendo pop, mas desconsiderar tudo que foi produzido nesse álbum para se fixar a pormenores, eu acho um grande absurdo. Não quero que comunguem comigo. Nem mesmo que façam coro a favor, ou que cantem os mesmos versos. No entanto, há quem prefira se prender a inúmeras expectativas em relação a seus novos trabalhos e compará-los com a menina precoce que produzia intermináveis hits, ao invés de analisar com imparcialidade tudo que por ela vem sendo desenvolvido ao longo dos últimos anos.

O disco começa com uma vigorosa pegada pop. “Aquela dos Trinta” mostra uma Sandy renovada e disposta a enfrentar novos desafios sem se esquecer do que a tornou um grande sucesso comercial. Entretanto, hoje os arranjos ouvidos estão muito mais “maduros” e elaborados. Existe uma preocupação estética ainda maior tornando o bom gosto um aliado inseparável. Percebe-se isso, ao assistir o vídeo produzido para a música. O capricho é evidente e tudo que se apresenta só faz coroar essa nova fase. “Aquela dos Trinta” é uma música deliciosa e muito bem composta com letra inteligente e ritmo gostoso.

“Escolho você “ segue na mesma linha sem deixar a peteca cair”. Um pouco mais cadenciada que a anterior, mas ainda assim bacanérrima. A música tem uma forma que eu chamaria de improvável. Busca novos caminhos com a inserção de diferentes efeitos e momentos pouco convencionais o que a torna muito interessante. Aliás, isso tem sido uma constante desde que Sandy partiu para a carreira solo.

Nem mesmo as exaustivas vezes que a música vem sendo tocada na nova novelas das 9, da Rede Globo,“Em Família” são capazes de ofuscar o brilho de “Morada”. Pelo contrário, uma audição que se faça deixando de lado a história de Manoel Carlos é o suficiente para se perceber o lirismo existente. Curiosamente, a música me trouxe um leve clima de moda de viola, não sei dizer o porquê. Mas há muito mais sutileza, simplicidade e beleza na canção do que se possa imaginar.

O grande barato de “Segredo” está logo após as primeiras quatro linhas da música já terem sido ouvidas. A partir desse momento as passagens se tornam muito interessantes, principalmente pelas marcações e acentos que são feitos. O final, ainda nos reserva um leve clima dramático decorrente de um arranjo super bem incorporado.

“Ponto Final”, a quinta canção do álbum, bota lenha na fogueira e apaga o ritmo cadenciado das duas músicas anteriores. É o retorno do disco ao lado mais pop e acelerado da artista. O que eu achei mais interessante nessa música foi o casamento perfeito dos arranjos e da levada com a proposta da letra. As decepções abordadas bem podem estar relacionadas às mulheres de todas as idades.

A música que menos me chamou atenção no disco foi sem sombra de dúvidas “Refúgio”. Ao dizer isso, alguém pode imaginar uma canção chata e que você logo apertaria o botão de pular para já ouvir a seguinte. Com certeza não é esse o caso, mas é como se a música chegasse ao fim sem realmente impressionar. No entanto, isso não significa que ela não seja uma música interessante. Bem, deixando de lado o que eu poderia vir a esperar da canção, o que eu mais gostei foi à leve sensação que tive de estar ouvindo uma canção dos Carpenters, que por sinal eu adoro. Mas não liguem para essa minha observação, pois algumas coisas que eu escrevo só farão sentido pra mim, eu sei.

Posso definir “Olhos Meus” como sendo uma música que amei logo de cara. A canção executada, só ao piano, se torna ainda mais bonita. Bem poderiam ter alguns arranjos de cordas, eles até me vieram à cabeça. Mas a música é tão bonita, como mencionei, que o piano cumpre muito bem o seu papel. Gostei das alternâncias realizadas Em determinados momentos o arranjo passeia pelas notas mais agudas acompanhando o lado da melodia mais leve e doce. Em outras ocasiões a acentuação recai sobre o baixo do instrumento. O lado mais grave faz o contrapeso e dá o equilíbrio certo a canção. Destaque para os acordes colocados ao final e pela linda execução. Realmente, linda !

“Ninguém é Perfeito” tem um clima super pra cima, como um dia que se inicia trazendo o sol da nova manhã. A música é bastante pop com ritmo agradável e letra feliz. A vontade que dá ao ouvi-la é de deixar todos os problemas de lado abrir as janelas do carro e sair por uma orla qualquer da vida sentindo o vento soprar a leve brisa da manhã.

O crescente e bem amarrado arranjo de “SIM” é bastante denso e só diminui o ritmo, propositalmente, nos seus acordes finais. A letra traz as confissões expostas de alguém que acredita, sobretudo em novas possibilidades. Não esconde as escolhas que fez e assume claramente a intenção de ir mais longe. Não foge as responsabilidades de produzir cada vez melhor, mas se liberta das sempre enormes expectativas que a cercam.

“Saudade” trafega pelas vias da MPB com uma beleza ímpar. É como se Sandy tivesse ouvido inúmeras vezes discos do Tom Jobim e por eles se deixado influenciar. A canção é muito bonita e mostra enorme riqueza de detalhes no arranjo. A música aponta para um lindo futuro repleto de gratas surpresas e belos momentos. Não tenho dúvida alguma de que o público que a acompanha a um enorme tempo e com ela envelhece terá pela frente uma artista cada vez mais sofisticada e completa.

A menina cresceu e as pérolas colecionadas durante todos esses anos se transformaram em um lindo colar que agora embelezam a nova mulher. Para trás ficaram os pequenos laços e enfeites infantis, bem como as canções adolescentes e a carreira de outrora. Vitoriosas serão todas as novas conquistas. Pois, as sementes há muito já vem sendo plantadas. E a vida, aos poucos vai sendo passada a limpo deixando claro o futuro cada vez mais promissor. Bem vindos sejam todos os novos dias de sol !

“SIM”, é pura construção poética e o retrato fiel dessa nova artista chamada, Sandy.

Escrevi demais, como normalmente não faço, mas sai bastante satisfeito dessa grata experiência que vivi.

Marcelo Teófilo

8 comentários sobre “Sandy | SIM

    1. marceloteofilo disse:

      Caroline, super obrigado pelo carinho e elogio em relação ao meu post. O álbum em si, eu adorei sob vários aspectos. Muito bem produzido e nada óbvio, o que achei demais em relação ao resultado final alcançado. Aliás, essa nova fase na carreira da Sandy me chegou como uma grata surpresa, justamente por que tenho pra mim que virão álbuns ainda melhores. Digo isso pelo que ouvi em termos de arranjos e sobretudo nas intenções ali existentes. Ou seja, em toda a concepção artística que ela está desenvolvendo.

      Quanto a “Refúgio’ não é que eu não tenha gostado da música, mas não foi a que mais me impressionou. Tanto gostei que ao ouvi-la citei as lembranças que tive de Carpenterrs. É uma ótima canção, mas foi apenas a que menos me chamou atenção, isso é normal rs

      Quanto a idade, não esquenta. rs Sou bem mais velho que você ! O blog surgiu no início do ano 2000 sempre falando sobre cultura e todas as formas de arte que me atraem.

      Enfim, sempre que quiser apareça. Acabei de criar uma página da Ettorerock no Facebook, mas vou continuar postando por aqui.

      Grande beijo e se puder compartilhe esse meu post que adorei ter escrito ! …

  1. Evellyn Matos Lima disse:

    Uau! Todas os aplausos do mundo pra vc!!! Quanta delicadeza para falar de um álbum e de uma artista completa, sem precisar cair nos modismos de elogiar muito ou só falar mal. Vc mostrou (no meu humilde entendimento) logo no começo do texto que vc não enxerga a Sandy como a maioria e, mostrou principalmente que enxerga as músicas dela e o quanto ela se completa a cada dia profissionalmente. Enfim, parabéns!!

    1. marcelo teófilo disse:

      Oi, Evellyn !

      Em primeiro lugar obrigado por suas palavras super carinhosas. O fato de escrever de forma independente faz com que eu possa me expressar livremente, sem amarras e sem compromissos com ninguém. Escrevo apenas sobre o que gosto e de uma maneira totalmente isenta e sem os ranços comuns a quem precisa ou quer agradar. Também não perco meu tempo escrevendo sobre aquilo que não curto, prefiro dedicar o meu tempo aos projetos que considero bacanas. Se eu não tivesse gostado do álbum da Sandy, bastaria que eu não escrevesse sobre ele. Seria mais fácil assim, acredito eu. No mais, o meu texto é realmente diferente. As pessoas dizem que eu escrevo e abordo os assuntos sob uma outra ótica, utilizando as palavras de uma maneira normalmente não vista. Fico feliz com isso. Apesar de escrever e compor, a minha atividade profissional é outra. Sendo assim, a Ettorerock e os meus textos são um enorme prazer e satisfação para mim. O que me orgulha, é saber que algo que escrevi chegou de uma forma bonita para quem o leu. Por essas e outras, mais uma vez eu lhe agradeço as palavras e carinho. Se você considerar adequado e pertinente, divulgue o post para os seus amigos no Facebook. Serei grato. Por fim, apareça quando quiser no blog. Acabei de criar uma página da Ettorerock no Facebook. Se quiser se inscreva nela. Ainda está bem no início, pois a divulgação é sempre através do blog, mesmo ! Grande abraço.

      https://www.facebook.com/pages/Ettorerock/488184431268512?fref=ts

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